Arquivo da tag: thriller

Dissecando Agatha Christie

A Rainha do Crime, Agatha Christie

A Rainha do Crime, Agatha Christie

Outro dia me dei conta de que li oito livros de Agatha Christie só nesse ano. Se não me engano, o primeiro foi Curtain: Poirot’s Last Case: assassino incrível, Poirot perfeito, depois voltei para o princípio, The Mysterious Affair at Styles — adoro o Capitão Hastings. Five Little Pigs, que havia começado e parado de ler algumas vezes — ou será que foi The Hollow? E aí, de uma só vez, Death in the Clouds, Peril at End House, Death on the Nile e Sad Cypress.

Curtain e Styles são os dois melhores dessa lista parcial. Achei Death on the Nile fraco, quer dizer, muita elaboração para pouca história — e a vítima é insuportável; Peril instiga e obedece a uma lógica um pouco diferente, mas já vi gente descobrir quem era o assassino logo nas primeiras páginas. Five Little Pigs é bem melhor do que eu esperava, mas sem grandes surpresas. The Hollow vale por causa de uma das personagens. Sad Cypress é curioso, e Death in the Clouds tem um certo valor emocional — já que foi a primeira vez em que descobri quem era o assassino!

Depois de ler tanto Agatha, comecei a notar alguns padrões nas histórias:

Sempre tem um ou dois personagens muito, mas muito bonitos, o que me faz pensar que talvez Ms. Christie não tenha sido, ela mesma, tão bonita — quando eu era adolescente, adorava escrever histórias com personagens lindos, e para não deixar dúvida alguma sobre essa perfeição estética, descrevia-os com uma porção de adjetivos vazios, ao que meu professor objecionava, perguntando se isso mudava alguma coisa na história. Bom, no caso de Christie, o belo pode ser a vítima, o assassino, a causa ou a oportunidade. Ou mais de um combinados.

Sempre tem uma fortuna no meio. O próprio Poirot costuma dizer que a maioria dos crimes apresenta uma solução bem simples. Bom, eu diria que a causa geralmente é dinheiro, quando o assassinato é premeditado, e luxúria, quando não é. Mas, é claro, os melhores livros são mais surpreendentes. Gosto especialmente de um deles — e não vou dizer qual é, mas não está nessa lista — o assassino matou por um quadro de Vermeer (ou será que era outro pintor?).

Sempre tem alguém acima de qualquer suspeita, pode procurar. Nos primeiros livros que li de Agatha, minhas desconfianças iam de um personagem para outro, até o livro acabar. A coisa ficava ainda pior quando Hastings aparecia na história. Ele e eu quase enlouquecíamos juntos, mudando de assassino a cada nova página. Mas sempre havia alguém acima de suspeita. E este alguém não era, necessariamente, o favorito de Hastings (sim, ele tem favoritos), mas alguém para cima de quem Poirot jogava Hastings: para dar um passeio no parque, por exemplo. Depois que eu descobri isso, minha vida de leitora ficou muito mais fácil.

Sempre tem um médico, ou um dentista, ou os dois. Bonitos, jovens e quase onipresentes — estão em todo lugar, no avião, na casa do paciente, no trem — bem na hora! E pelo menos os dentistas não estão acima de suspeita — em um dos livros, que eu não vou dizer qual é, Poirot subverteu todas as regras e até mudou o par romântico do final… Que pena.

Toda história tem um final feliz. Depois do 10º livro, a autora acaba se confundindo com Poirot. Eu até diria que ela vira Poirot. Aí vem a hora em que a gente lembra que, no fundo ou até na superfície, Christie é mulher. A maioria de seus livros — só consigo pensar em dois que são exceções que confirmam a regra — acaba com um par romântico. E, veja bem, nem sempre é o par que os próprios personagens envolvidos tinham em mente — Poirot é o cupido. Parece que em matéria de crime e amor, a última palavra é sempre a dele!

E eu já vou pensando no próximo livro…

Cinquenta Tons de Cinza; o romance perdido de James Cain

Capa do livro perdido do mestre noir James A. Cain. A foto indica que existe uma edição Kindle, mas na verdade só audiobook e hardcover.

Dia desses, no salão perto de casa, fui surpreendida por uma mulher que lia Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey no original). O livro, lançado em 2011, é um bestseller absoluto e o mais vendido paperback de todos os tempos, superando o recorde da coleção Harry Potter (que, por um motivo ou outro, nunca li). Já tive vontade de ler algumas vezes, mas era só dar uma olhada nas críticas disponíveis na página da Amazonmais de 12 mil no total — que desistia. Foi a figura daquela mulher pomposa e séria lendo E. L. James enquanto fazia as unhas que me fez voltar à obra mais uma vez (e acabo de baixar pelo Kindle).

Conheço pouco do enredo do primeiro título da trilogia, mas já encontro semelhanças entre este e Vênus em Peles, de Sacher-Masoch (aqui, post antigo sobre o assunto). Num dos primeiros encontros, Grey (que dá nome ao título) propõe a Ana (Anastasia, a protagonista) que eles assinem um acordo de “dominação e submissão”, do qual desiste (temporariamente) após descobrir que ela é virgem (aos 22!). O acordo é provavelmente assinado antes do fim deste primeiro livro, mas realmente duvido que supere a complexidade intelecto-passional de Sacher-Masoch. Enfim, vou ler o livro antes de criticar.

*

The Cocktail Waitress, romance “perdido” do escritor noir James M. Cain redescoberto no fim do ano passado, acaba de ser publicado. Ainda não está disponível em versão Kindle, infelizmente (nem mesmo para compra antecipada) mas dá para comprar pela Amazon o audiobook.

A crítica gostou da protagonista Joan e do livro, com ressalvas: “Nenhum autor era melhor [do que Cain] quando o assunto era o preço que se paga pela concretização dos desejos. Não se trata de um Cain vintage, mas ainda assim é Cain”.

Os 39 Degraus, por John Buchan e Hitchcock

Desenho de Merville Stairs por Dermond McCarthy

Os últimos dias têm sido uma correria mas eu não poderia deixar de falar do livro que li recentemente — e finalmente — Os Trinta e Nove Degraus, de John Buchan.

Escritor escocês, historiador, diplomata, Primeiro Barão de Tweedsmir e uma vez 15o Governador Geral do Canadá, Buchan é bastante prolífico. O romance é o primeiro de cinco a figurar o personagem que se tornaria famoso, Richard Hannay (no início um escocês bem de vida vivendo tediosamente em Londres). O título curioso surgiu quando Buchan estava doente num lar assistencial privado e a irmã de 6 anos começou a contar os degraus da escada que levava à praia. A escada, que se tornaria um presente para o escritor (bem, parte dela), tinha 39 degraus.

Nas mãos de Hitchcock, no entanto, o título é um Mc Guffin — talvez o melhor de toda a obra do diretor. (Clique sobre o link para conhecer mais sobre a técnica narrativa popularizada por ele). Confesso que só resolvi ler o livro por causa da excelente adaptação do mestre do suspense. E o filme, em preto e branco, é um dos primeiros de sua filmografia, ainda da época inglesa — estrelando a já famosa atriz Madeleine Carroll.

A primeira vítima, em Buchan um homem, torna-se nas telas uma mulher — e outras personagens femininas surgem ao longo da trama. O desfecho, que na versão literária obedece a uma combinação ficção/realidade pouco ousada, na hitchcockiana traz uma grande surpresa, e o efeito mcguffiano me faria ler Buchan madrugada adentro.

Cada versão tem seu final, e o melhor é que ambos são ótimos. Vale a leitura!

Leitura Atualizada

Estou terminando de ler Stardust, de Neil Gaiman. Vi o filme há 4 anos e adorei, mas por algum motivo nunca tinha lido a obra. Em papel, pretendo começar a ler neste fim-de-semana meu delicioso presente Femmes Qui Courent Avec Les Loups, de Clarissa Pinkola Estés. E para minha total surpresa, acabo de comprar as versões Kindle de The Dukan Diet e A Practical Wedding, para me preparar para 2013.