Tenho falado com a equipe do Kindle Direct Publishing todos os dias. No último e-mail, eles me disseram que detalhes sobre o formato do meu Kindle Book só serão acertados mesmo uma vez submetido o manuscrito (ele pode ficar até 72h em aprovação). Minha intenção era publicar Uma Estrangeira na França em português, e alguns contos também em francês. Mas agora já não sei mais, pois traduzir todo o livro para o francês daria muito trabalho, e me impediria de cumprir o prazo que estipulei para a publicação (bom, pelo menos para o envio à Amazon): 17 de agosto, véspera da minha viagem para a Europa. E é bem possível que a Amazon desaprove esse sistema aleatório de tradução.
De qualquer forma, decidi publicar aqui (abaixo) um desses mini-contos. Intitulado Uma Carta de Amor, foi um dever nosso para a aula de Atélier d’Écriture. A inspiração é um sonho que tive. Publicarei a primeira versão traduzida por aqui, logo, logo.
Estou organizando os textos, quase uma colcha de retalhos de minha viagem à Europa. Ainda não há uma divisão definida, mas quero falar dos encontros (rencontres), das viagens e lugares (ie, há um texto para Montpellier, outro para Paris, outro para Nîmes, para a Provença, para Antibes, assim como outras cidades europeias que visitei no período, Londres e Madri), e da ficção cultivada por lá. A maioria dos textos está pronta, falta organizá-los numa unidade, ou então o pessoal da Amazon vai me barrar (os self-authors precisam definir 2 categorias para seus livros. Relatos de viagem e ficção?).
O texto sobre Paris, por exemplo, será um mini guia aleatório, começando com a minha chegada à cidade em luz em outubro de 2010. Embora estivéssemos em pleno outono, fazia um belo dia de primavera, e eu que tinha visitado Paris pela (única e) última vez em 1995, não sabia sequer me deslocar na cidade. Perdi mais de 1h perdida pelo metrô, até que decidir andar, de mala e cuia, do Pont Neuf até a papelaria Sennelier, passando pelo Musée D’Orsay, pelo restaurante La Palette, por todo o bairro de Saint Germain. Foi lindo e inspirador. Comi e bebi um rápido vinho em cada um dos cafés inflacionados, só de turistada, depois fui andando pela Rue de Rivoli, passando pela Place de L’Ópera, pela Place Vendôme, até chegar ao meu hotel na Madeleine. E eu, que havia chegado em Montpellier dizendo que não moraria em Paris por nada desse mundo, já estava deslumbrada.
Une Lettre d’Amour
J’ai rêvé de toi.
Tu es arrivé un beau matin. Tu es entré. Tu as monté les escaliers. À l’étage, tu m’as trouvée dans la chambre, à droite. Tu y es entré. Tu t’es assis sur mon lit. Moi, je me peignais devant le miroir.
Je ne dis rien, je ne me tourne pas vers toi.
En prenant mon vieux cahier, tu commences à lire. Tu lis longtemps mais je n’écoute rien. Je regarde le vent qui joue avec tes cheveux, tes yeux châtaigne qui deviennent verts sous la lumière orange. Je souris derrière mon maquillage, à travers le miroir. Je pense à toi.
Tu arrêtes de lire, tu te lèves, tu fermes les fenêtres, tu éteins les lumières. Tu te déshabilles et tu marches vers moi, lentement. Tu me dis : « Dis-moi ‘je t’aime’ », et je te le dis. « Déshabille-toi. ». Et je me déshabille. Et, finalement, on s’allonge sur le lit.
Le temps passe vite mais on n’allume jamais de lumière. Tu sais tout ce que je pense et moi, je devine tes envies. « On vit dans l’ombre ! », me dis-tu, « On a supprimé le concept de la lumière ». Je ris. Le temps passe vite et un matin je me lève, je m’assois devant le miroir. Que j’ai vieilli ! Ma peau est devenue toute grossière. Mes yeux sont ceux d’une vieille !
Je vais te chercher sur le lit. Toi aussi, tu as blanchi. Je te touche le cou mais tu ne respires plus.
Horrifiée, je me réveille.
…
Je sors de la chambre et, en parcourant la maison, j’allume toutes les lumières. J’ouvre toutes les fenêtres. Qu’il fait beau ! Ah si j’avais eu plus de temps, si j’avais pu te regarder vieillir. Si j’avais pu vivre plutôt que deviner !
Et là, je rentre dans notre chambre et je te vois, aussi jeune que la première fois. Alors, je me souviens : tu n’es arrivé qu’hier soir.
« Il fait beau», me dis-tu en souriant.
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