Arquivo mensal: novembro 2012

Lendo livremente no Kobo

As diferentes versões do Kobo (sim, eles são coloridos!)

Olha, estava preparando um outro post para esses dias mas esse teve que passar na frente.

A Livraria Cultura começou a vender hoje — para entrega a partir do dia 05 de dezembro, às vésperas do Natal — o Kobo, que foi considerado o melhor eReader pela revista Wired. O preço estipulado pela Livraria Cultura é R$ 399, quase o dobro do preço internacional — 129 USD. O Kindle Touch também é vendido, nos Estados Unidos, a um valor a partir de 119 USD. Mas enquanto a Amazon não chega, fica difícil dizer quanto vai custar no país. (Clique aqui para encomendar seu Kobo na Livraria Cultura).

Para começar, preciso dizer que gostei. Mesmo. O design é bacana, o layout é bem similar ao do Kindle Touch, e adorei a contracapa estilizada. Gostei tanto que compraria um, se não fosse tão caro. A empresa canadense e, agora, a Livraria Cultura, têm feito muita publicidade em torno da ideia de leitura livre (“reading freely”), dizendo que livros em qualquer formato podem ser lidos no Kobo, o que é uma grande vantagem em relação aos eReaders exclusivos hoje disponíveis no mercado. Ainda preciso confirmar se o contrário também é verdade, ie, se podemos ler livros Kobo em qualquer eReader — dando uma olhada rápida no site da Cultura, vejo que muitos livros estão disponíveis em formato PDF, que não é ideal para o Kindle, por exemplo.

E, uma curiosidade: os eBooks Kobo mais vendidos fazem parte da nova literatura erótica. A trilogia de Cinquenta Tons de Cinza, obras de Sylvia Day, Algemas de Seda e até Anaïs Nin, em português. Será que é porque ler livros assim sem capa é melhor?

O novo livro de Ian McEwan

Ilustração do conto Hand on the Shoulder, de Ian Mc Ewan, publicado na revista New Yorker, em abril

Ian McEwan acaba de lançar um novo livro. Sweet Tooth já está disponível na Loja Kindle da Amazon mas, na verdade, o download só poderá ser feito em algumas horas, na manhã de amanhã, dia 13 de novembro, data de lançamento do livro pela Editora Nan A. Talese, que integra a gigante Knopf Doubleday.

Os usuários de Kindle poderão começar a ler a qualquer hora mas, para quem ainda está na dúvida, recomendo o conto dele, Hand on the Shoulder. Desde que comecei e ler McEwan, em 2008 ou 2009, que ele publica um trecho do livro na New Yorker antes do grande lançamento. Naquela época foi On Chesil Beach, e até hoje gosto mais do conto do que da novela. Se o conto e Sweet Tooth são realmente a mesma obra, só descobrirei amanhã. Não me apaixonei pela história, mas quando se trata de Mc Ewan, o veredicto é  difícil. Gosto, principalmente, dos textos mais curtos, como On Chesil e, mais ainda, The Comfort of Strangers, uma “novella” que durou uma viagem solitária, de trabalho, a Curitiba, e imprimiu fortes emoções na minha vida de leitora. Mc Ewan parece compartilhar a mesma opinião. Em Some Notes on the Novella, na verdade um post publicado no blog da New Yorker, ele fala sobre as delícias da ficção mais curta e aí é impossível não concordar com ele. Vale cada palavra. Para ler e reler, várias vezes.

P.S: O livro Sweet Tooth está já disponível. É só clicar aqui.

Uma correção importante, pós-publicação

Nesse feriado descobri que Serena, versão brasileira de Sweet Tooth, já está disponível em português desde junho/julho. O Brasil sediou o lançamento global da obra, com a participação do escritor na Flip. Lembro de ter lido algo na época, mas não poderia nunca associar o livro previsto para novembro àquele anunciado na Festa Literária Internacional de Paraty. Que maravilha, o país sediando um lançamento tão importante, de um escritor premiado, festejado pela crítica e pelo público.

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Terminei de ler Stardust, anos depois de ver o filme. Adoro Neil Gaiman, principalmente seus livros para crianças ou adolescentes, e suas “novellas” e romances mais curtos. Stardust é uma mistura irresistível de sensibilidade e criatividade, e muito, muito melhor do que a versão para o cinema.

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Minha fascinação pela literatura fantástica me levou a outra obra desconhecida, Fantastic Tales, organizada e editada por Italo Calvino. Os grandes nomes da literatura fantástica e da fantasia estão lá, assim como ilustres desconhecidos (do grande público leitor). Estou adorando e até hoje tentando me recuperar de Jan Potocki, The Story of the Demoniac Pacheco. Autumn Sorcery, de Joseph Von Eichendorff, também não fica muito atrás.

Histórias que não acabam nunca; Cinquenta Tons de Cinza; Casamentos

Tempo sem fim. Início da primavera, Languedoc, um homem fotografa. Ao longe, parece carregar uma arma

Hoje terminei de ler Fifty Shades of Grey. Gostei mais do desfecho do que do corpo da história, e acho que podemos dizer que o trecho final é superior. Em 500 páginas, o livro não arrancou de mim a emoção e verdade das últimas dez, mas as últimas dez devem ter feito valer a leitura. Há uma curiosidade perversa latente na tola Ana com que quase todas as mulheres podem se identificar. Só fico na dúvida se o momentum final não teria ficado melhor num conto. A ideia de uma continuação me apavora. Meus contos e minhas histórias preferidas cristalizaram personagens queridos e outros nem tanto em um tempo sem fim, numa escada de milhões e milhões de degraus. A protagonista de Lamb to the Slaughter, de Roald Dahl, no quarto, gargalha depois de servir a arma do crime aos policiais, as gordas de The Three Fat Women of Antibes provavelmente teriam comido até morrer se Maugham não as tivesse salvado com um ponto final. Brown, o pobre Brown, no recente Ox Mountain Death Song, não sabemos o que aconteceu com ele depois, e muito menos antes, tantos poemas inacabados de Baudelaire e contos assustadores de Poe, Milhauser e seus miniaturistas sem fim, ou o homem que alguém convenceu a comprar um lustre de vidros e de repente, havia enchido a casa de espelhos (leia aqui Miracle Polish, publicado na New Yorker no ano passado). A literatura às vezes se comporta como o buraco negro das nossas almas, e faz a história parar num único tempo. Como “se a intrusão dilacerante do tempo pudesse ser trancada do lado de fora”, (Tennessee Williams). (Aqui, você pode baixar todo o texto The Timeless World of a Play*).

Se eu tivesse escrito Cinquenta Tons, terminaria o livro com uma cena de Anastasia subindo as escadas do novo e estranho apartamento, num início de noite sem luz, sem parar de chorar, impregnada com o cheiro de Christian e com a escuridão sem fim.

Agora volto às últimas páginas de Stardust, de Neil Gaiman, que voltei a ler hoje. E, se ainda tiver fôlego, a The History of Mr Polly, de Wells.

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No último sábado, Tomás e eu fomos padrinhos num casamento de amigos. Em um ano e três meses de namoro, e muitos, muitos casamentos, foi a primeira vez em que fomos padrinhos juntos, e isso em si já seria muito especial. Mas o fato de os noivos terem se tornado tão importantes, em tão pouco tempo, fez do casamento um dos mais emocionantes de toda a minha vida.

* Trecho completo, na versão original:

The audience can sit back in a comforting dusk to watch a world which is flooded with light and in which emotion and action have a dimension and dignity that they would like-wise have in real existence, if only the shattering intrusion of time could be locked out.