Se descobri o cinema com Kubrick, foi por causa de Hitchcock que me apaixonei pela sétima arte.
Gosto de todos os filmes dele, dos clássicos ingleses aos hollywoodianos, dos mais “cabeça” aos mais divertidos, dos preto-e-branco aos coloridos com technicolor. Foi graças a suas brilhantes adaptações que conheci alguns escritores e obras sensacionais — como John Buchan e seu The Thirty-Nine Steps. Mas a grande diferença em relação a Kubrick é talvez o fato de eu gostar de Hitchcock a qualquer hora do dia.
Tenho revivido emoções do diretor inglês. Aproveitando o lançamento do filme Hitchcock, com Anthony Hopkins e Helen Mirren, agora em cartaz em São Paulo, a Livraria Cultura promoveu uma noite só com seus clássicos. Não fui, mas resolvi assistir, em DVD mesmo, a dois filmes que adoro. Marnie, por causa de Sean Connery e de uma Tippi Hedren impecável, por seu conteúdo sexual e controverso para a época. Rope porque se trata de um filme perfeito. Filmado em longas sequências em uma única locação e quase sem edição, faz parte do cinema teatral e envolve uma experimentação bem ousada. Fiquei sabendo de sua existência em uma edição especial da Scientific American sobre o Tempo, que acaba de ser reeditada. Em uma das reportagens, Antonio Damasio avalia que, embora o filme de Hitchcock tenha apenas 80 minutos, a duração para o espectador é de pelo menos 105 minutos, proeza que ele conseguiu com seus efeitos de câmera.
Redescobri The Paradine Case, que não tinha visto até agora. Não me entusiasmei tanto, mas Alida Valli está sensacional, e Louis Jourdan, de uma beleza quase indecente para a película em preto e branco. Com a Apple TV, começamos também a ver episódios da série de TV de Hitch, “Alfred Hitchcock Presents“. Vimos o primeiro capítulo, Revenge, com Vera Miles — mais linda do que nunca — e Into Thin Air, também chamado de The Vanishing Lady — uma alusão ao excelente filme que ele fez para as telonas, The Lady Vanishes. Então resolvemos pular para um episódio da terceira temporada, Lamb To The Slaughter, baseado no conto homônimo de Roald Dahl, um de meus textos preferidos. Perfeição pura.
Revimos Janela Indiscreta e Dial M for Murder, duas obras fantásticas com a deslumbrante Grace Kelly — em um dos extras, um dos envolvidos na filmagem diz que ali estão as tomadas mais bonitas já feitas de um rosto feminino. E eu concordo.
Por tudo isso, devo dizer que gostei do Hitchcock com Hopkins, mas para mim ninguém nunca poderá representá-lo de verdade. Nos últimos anos, a minha relação com o cinema foi marcada pela descoberta de novas obras do diretor, e às vezes fico pensando o que vai ser de mim quando tiver assistido a absolutamente tudo.
Mas será que eu vou conseguir ver tudo? Pesquisando na web, Tomás descobriu que ele tem um filme perdido. De The Mountain Eagle, filme mudo de 1927, restam apenas alguns ‘stills’ e um roteiro obtuso. E, ainda assim, daria um ótimo thriller.
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Baixei uma amostra de Alfred Hitchcock: A Life in Darkness and Light, considerado a sua biografia máxima, mas até agora não consegui passar do começo. Foi aí que lembrei de um livro recomendado por um amigo há vários anos, Hitchcock, de Truffaut, disponível apenas em papel. Vou encomendar.
As leituras têm sido lentas desde que terminei o segundo Simenon. Estou lendo The Falls, de Joyce Carol Oates, recomendado por minha tia-sogra. O livro é bonito e profundo, e talvez por isso esteja demorando tanto para terminá-lo.